De volta às questões de género na saúde, lembro que, em Maio, a Espanha aprovou legislação reconhecendo que há dores menstruais agudas que são incapacitantes para a mulher. Ciente do desprezo a que é votada esta função mensal do sistema reprodutivo feminino, imagino quantos acharam esta lei inútil, ou mesmo ridícula. O Parlamento luso, por sua vez, chumbou uma tal proposta no fim do mês.
São seculares os mitos e tabus relacionados com a menstruação. Na Bíblia, o Livro de Levítico ordena que a mulher seja “posta de lado durante sete dias”, o período em que sangra. O próprio termo “período” refere esse tempo de rechaça e afastamento e, qual palavrão, só foi permitido ser dito na televisão em 1985.
Hoje, existe a app Clue para consultar um inventário das superstições sobre o período à volta do mundo, onde raparigas e mulheres em alguns meios ou não têm acesso a pensos higiênicos ou são proibidas de os usar. Mesmo em Nova York, em 2015, o metro proibiu um anúncio referindo mulheres com o período, mas autorizou um sobre cirurgia para aumentar os peitos e a foto de uma mulher a ser estrangulada com uma gravata, publicitando um filme.
A indisposição antes e durante a menstruação é uma realidade que afeta mulheres e jovens. Num estudo de raparigas na Austrália, por exemplo, 93% sentia dores menstruais, 20% tinha dores severas, e 26% faltava à escola. As dores menstruais afetam a vida de quem as tem. Que se reconheça esta realidade é uma lufada de ar fresco!
Rosa Neves Simas
Asas da Igualdade, Açoriano Oriental, 25 de Junho 2022