Na noite de 22 para 23 de agosto de 1791, na actual Republica do Haiti, uma revolta dava início ao fim da escravatura. Este dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e a sua Abolição pretende não deixar morrer na memória de todos o flagelo do comércio de escravos e sua inerente desumanização.
Manter viva a tragédia como uma forma de prevenir a recorrência de fenómenos de escravatura, sustentados na discriminação racial propor a reflexão sobre as suas origens e causas, modos e consequências e intersecção com outros sistemas de opressão que atravessam e são atravessadas por ela e acalentam fenómenos de dominação de seres humanos por outros.
Dominação/subordinação racial que persiste sob outras formas e que se intersecta com pressupostos do sexismo e vai tomando novas configurações mas sempre assentes no estereótipo da inferioridade, desvalorização do humano, da mulher, da mulher negra. Em “Não serei eu mulher” Bell hooks expõe essa dupla segregação e falta de lugar de existência da mulher negra. Quando se fala de gentes negras, o sexismo opõe-se ao reconhecimento dos interesses das mulheres negras; quando se fala de mulheres, o racismo opõe-se ao reconhecimento dos interesses das mulheres negras» (p. 26).
Não esqueçamos pois os dias dos navios negreiros mas façamos desta memória mote para a compreensão de representações desumanizadas e estereotipadas que embora reinventadas persistem até aos dias de hoje
|| Joana Moreira (APF Açores)
Asas da Igualdade, Agosto publicada no Açoriano Oriental, do dia 20 de Agosto, 2022