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Nêmesis, 61 anos, São Miguel

Sofri violência doméstica muito grave. Peço a todas as mulheres que passam por violência que chamem a polícia. Caso não consigam, procurem uma vizinha de confiança para chamar. Saíam de casa e façam queixa do agressor. Procurem apoio à vítima para se retirarem com segurança de casa ou retirarem o agressor. Não há mulher nenhuma que suporte violência física de um homem. O homem tem sempre mais força do que uma mulher. Portanto, eu digo a todas as mulheres que sofrem de violência doméstica que procurem a polícia e apresentem queixa do agressor, pois a queixa é muito importante. Após a queixa, aceitem o apoio à vítima. Se não tiverem casa para morar, aceitem uma casa abrigo e levem os filhos caso tenham. No meu caso, não tive filhos para levar comigo. Fui sozinha, pois meus filhos expulsaram-me e agrediram-me. Não tive esse apoio deles. Ninguém merece ser maltratado, ninguém merece essa vida.

Senti muito medo durante os anos que vivi com ele. A primeira vez que fui maltratada, senti medo, muito medo. Ele afogava-me, sempre que ele agredia, a primeira coisa que fazia era apertar-me o pescoço, afogava-me e ficava com falta de ar. Apertava o meu nariz e dava imensos socos na minha cabeça. Chegou a agredir-me com objetos na cabeça, o que exigiu cuidados médicos, incluindo a necessidade de levar pontos na cabeça. Devido às agressões severas que sofri, principalmente na cabeça, tive problemas de saúde associados. Foram anos de muito medo.

Chegou a ameaçar-me com facas, ficava aterrorizada. Um dia quando ele estava na casa de banho, fugi, fui à polícia e o denunciei. Alguns dias depois a polícia o apanhou e foi detido. Durante esse tempo fiquei em casa de uma filha, enquanto a polícia andava atrás dele. Contudo, em casa de minha filha, em quem confiava, fui agredida várias vezes por ela. Além do pai, fui agredida por meus próprios filhos. Expulsaram-me de casa com muitas agressões, várias agressões e insultos. Tenho muita dor do que os meus filhos fizeram, estive casada 44 anos, fui muito maltratada por ele, nunca imaginei que iria sofrer tanto. Fui maltratada de todas as formas, fisicamente, emocionalmente, sexualmente, uma das vezes fui parar ao hospital inconsciente. Cheguei a ver a morte à minha frente, sei que foi Deus quem me protegeu da morte. Por isso digo e repito a todas as mulheres, perdoamos uma vez, não mais que isso, porque a violência vai sempre aumentando, até pode levar à morte. Sofri muita violência e cheguei perto da morte. Homens assim, não merecem perdão nem desculpa. Não merecemos, nem precisamos de levar essa vida, há apoios e entidades que ajudam, não ficamos desamparadas.

Ao perdoar, eles não mudam, tenho essa experiência. Só vai agravando com o passar do tempo. Fui vítima de um marido e de 3 dos meus filhos. Foi muito mau e uma experiência com muito medo. E acredito que o governo também tem de mudar muita coisa, há coisas que têm de mudar, uma delas é o aumento das penas dos agressores, e serem eles a saírem de casa e não as vítimas. O meu casamento foi sempre com violência, mas nos últimos anos agravou a intensidade; nos últimos 3 anos, foi grave e bizarro, não sei o porquê. Só sei que nos últimos 3 anos foram tantas agressões que fiquei aterrorizada e muitas vezes fugia. Após o julgamento, obtive o divórcio. Durante a apresentação da queixa, tive orientação dos serviços a recorrer. No início foi difícil, pois tinha vergonha de contar o que tinha passado, mesmo às pessoas que conhecia. Mas todo o apoio que tive foi muito importante e continua a ser importante para este processo de superação.

Procurem pelos seus direitos, nenhuma mulher deve tolerar violência. Não dá o direito a nenhum homem bater, agredir e maltratar uma mulher. Após a primeira agressão, procure ajuda, não permita que chegue a uma segunda vez. Senti muito medo e perdoei muito, mas tive de ganhar forças e pedir ajuda. Não deixem e não aguentem tantos anos de violência. Por isso, peço às mulheres vítimas que peçam ajuda, não esperem que eles mudem. Procurem ajuda. Partilho a minha história para que as mulheres procurem ajuda, que saibam que não estão sozinhas, mesmo que acreditem que estão. Não tenham medo, lutem contra o medo e peçam ajuda, pois há apoio, ajuda e amor fora da casa que só nos maltrata. Não se permitam sofrer muito mais.