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Íris, 43 anos, Faial

Estive num relacionamento durante 10 anos, os primeiros 7 anos foram muito bons. Depois, tive o meu filho nessa relação, e neste momento, ele tem 9 anos. Os últimos 3 anos da relação não foram muito bons, não sei porquê, não sei explicar, porque sempre fui uma mãe trabalhadora, uma mãe e mulher de casa, sempre o respeitei. A nível de violência doméstica, havia muita violência psicológica, da qual fui me calando. Tive amizades que tive de pôr de parte e deixei de falar com a minha família por 7 anos. Após o nascimento do meu filho, é que eu tive o apoio da minha família e voltei a falar com a minha mãe e irmãos.

Depois, ele tornou-se uma pessoa muito violenta, a nível de palavras, ciúmes, controlava o meu telemóvel, se eu ia a algum lugar já começava a controlar, se falasse com alguém, na cabeça dele, já tinha tido intimidade com aquela pessoa, sem ter. Eram muitos ciúmes e controlo, do qual fui me sentindo cada vez mais afogada, cada vez mais controlada na relação, até que depois aconteceu o adultério em casa por parte dele, não da minha parte. Atualmente, vejo que tudo o que se passava, ou o que ele julgava que eu fazia, era ele quem o fazia para comigo. Depois de saber do adultério, pôs a questão de ir para a UMAR, já tinha duas irmãs que já tinham estado lá. Não pensei duas vezes, chamei a polícia e fui para a casa de acolhimento, porque já não conseguia aguentar aquela situação, da qual eu não tinha feito nada. Sempre fui uma boa mãe e boa mulher, e de repente vi o meu mundo virado de pernas para o ar.

Neste momento, há 5 anos que estou sozinha com o meu filho. Estive um ano e 3 meses na UMAR. Posso dizer que o primeiro mês foi difícil a adaptação, as regras, mas depois quando nós saímos, somos família, somos da casa. Depois choramos, pois fica a amizade e a porta aberta. Se um dia precisarmos de algo, podemos sempre procurar ajuda, não só para nós, mas também para dar exemplo a outras colegas, família e mulheres que vamos conhecendo na nossa caminhada. Muitas vezes eu digo: ‘Procura ajuda, não tenhas medo de falar’.

O meu medo era quando o telefone tocava e dele dizia: ‘Onde é que tu estás?’. E vejo muitas pessoas a passar pelo mesmo e digo: ‘Aquilo pelo que estás passando, já passei. Não tenhas medo de falar’. Lembro de a polícia ter perguntado porque é que eu tinha aguentado tanto tempo numa relação abusiva.

Lembro quando estava grávida, tive de fazer o toque durante a gravidez, e ele foi sempre presente. Mas quando o médico deu o toque, mal saí do consultório, ele perguntou: ‘O que é que sentiste?’ É daquelas perguntas que nenhum pai, nenhum marido deve fazer ao acompanhar. Não tive resposta. O que é que eu senti? Fiquei sem palavras, não tive resposta, fiquei abismada com a pergunta.

Ele chegou ao ponto de cheirar a minha roupa interior, por desconfiar que eu andava com alguém, coisa que não fiz. É daquelas coisas que marca sempre e deixa cicatriz. É muito difícil a violência psicológica, é pior do que uma chapada, mais que a física para mim. Pois é um tormento, ainda hoje a gente tem cicatrizes, a gente esquecer não esquece, vai fazendo a nossa vida. Há 5 anos que estou sozinha com meu filho, tenho o meu trabalho, foi no início difícil arranjar casa, mas consegui, dei a volta, e hoje agradeço o que consegui.

Uma coisa que sempre me disseram foi: ‘Tens de contar é contigo e contigo’, porque não podemos esperar nada de ninguém, temos de ir à luta, e é isso que faço todos os dias, caminhar e nunca olhar para trás, seguir sempre em frente.

Temos de dar força às outras, levanta-te, vai, levanta-te, é difícil, mas conseguimos. Quando fui parar à UMAR, nunca pensei que iria ser a minha vez, mas fui, e hoje sei que fui com um propósito, abri os olhos para muita coisa, deram muita força e acreditaram em mim, nunca desistimos. Há dias que vamos abaixo, porque também merecemos uma palavra, um carinho, um beijo, um abraço, e vou buscar isso tudo ao meu filho, somos muito unidos, sou eu e ele.

Na casa abrigo, após a adaptação, houve muitas coisas positivas, amizades, risadas, momentos divertidos. Deu para orientar e poupar para organizar a minha vida, recomeçar uma nova vida. Quando fui para a minha casa, eu não tinha um talher. Agora olho para trás, e um dia quando ele foi lá a casa para visitar o filho, deu-me um gozo fazer um café e dar-lhe numa chávena que eu consegui ter. Tenho orgulho em olhar para a minha cozinha e ver tudo o que tenho, consegui ter sozinha. Tudo o que conquisto tem muito significado para mim. Tudo o que perdi, ganhei o dobro ou triplo. Dá-me gozo olhar para trás e ver tudo o que conquistei quando não tinha nada. Dou valor a cada passo que dou para conquistar seja o que for.

Por isso, o meu conselho é que tenham coragem, coragem para enfrentar, para dizer não, chega e basta. Sejam fortes, não se fechem em casa, peçam ajuda à pessoa mais próxima que tiverem, família, amigos, colegas, polícia. Peçam ajuda.

Pedir ajuda é muito difícil, mas têm de ser fortes, porem os pés bem assentes e firmes e dizer chega. E não olhar para trás, a gente depois de deixar uma pessoa, sou de acordo que não volta mais. Há pessoas que voltam, mas eu acho que as pessoas não melhoram, mas vão para pior.

Por isso, sejam fortes, vão à luta, custa no início, mas compensa a luta. Temos de ter muita força de vontade, há sempre alguém a quem recorrer, mas parte de nós dar o primeiro passo. Temos ajuda, a polícia, entidade de apoio à vítima. Posso dizer que sou mais feliz.

O primeiro passo custa, mas depois desse passo tudo se consegue. Leva-me a partilhar a minha história porque sou um exemplo de que se consegue e de superação.