Quem passa por isto é que sabe o que é. Nós sabemos que é difícil, complicado, dói, mas quem está a passar por isto, que não tenha medo, procure ajuda, chame a polícia ou fale com alguém próximo em quem confie, que o possa orientar e ajudar. Quando passamos por isto, pensamos que vamos aguentar mais um pouco, porque, ou iremos passar por causa dos filhos, ou porque não temos casa para onde ir, e vamos aguentando aos pouquinhos, a ver se orientamos a vida. Mas quando começa a violência, esta não para e vai sempre aparecendo mais alguma desculpa, como a desculpa de ‘eu vou mudar, vai ser diferente’, mas NÃO. Vai ficando cada vez pior, não para, só agrava.
Fui vítima mais de uma vez. Cheguei cá em 2008 quando conheci uma pessoa no meu país, um senhor que parecia simpático. Depois, vim para cá com ele, pois, como não tinha condições no meu país, vim com o sonho de procurar e ter uma vida melhor. Vim com a minha filha pequena e arrisquei, embora a minha mãe estivesse receosa, mas mesmo assim vim.
Essa pessoa, quando chegamos cá, fiquei num quarto na casa dele com a minha filha. Depois, ele tentou fazer coisas comigo à força, mas, como recusei, mudou as fechaduras de casa e colocou-me na rua sem nada. Fui à casa de uma vizinha pedir ajuda e depois dirigi-me à PSP, onde recebi o apoio da UMAR. Então, fui para uma casa abrigo
Uns anos depois, conheci o meu ex-marido em 2013. Fiquei grávida de uma menina e, passados 6 anos, engravidei novamente. Ele começou a beber e consumir drogas. No início, eu não sabia, mas depois descobri que gastava muito dinheiro nesses vícios. Confrontei-o, e ele prometeu que iria parar, mas nunca o fez. As coisas foram complicando, a violência aumentou, e ele abusou da minha filha mais velha, a menina que veio comigo para cá. Fui apresentar queixa e fui novamente acolhida na casa abrigo com os meus filhos por 6 meses. Hoje, reconstruí a minha vida e já tenho a minha casa, onde estou com os meus filhos. Percebi que a relação não estava bem devido aos consumos e que não ia dar certo. Depois, escalou para a violência. Hoje, agradeço e não me canso de agradecer os apoios que tive para sair disso.
Foi muito difícil. Dava por mim muitas vezes a chorar sozinha, chorava sem parar, a olhar para um lado e para o outro, sem ter ninguém da família por perto. Graças ao apoio e ajuda da UMAR, fui reconstruindo a vida, conseguindo uma casinha. O apoio psicológico foi muito importante e ajudou bastante.
Por mais que sofra, nunca desista, lute, que um dia tudo irá passar. Não tenham medo de pedir ajuda, porque uma vida com violência não é vida para ninguém. Não vão conseguir seguir em frente se ficarem na relação. Sigam em frente, procurem ajuda, que irão conseguir safar-se, sair e organizar a vida no futuro.
Partilho a minha história para dar motivação às pessoas que estão a passar por isso e para acreditarem que não estão sozinhas, e espero que ajude alguém. A UMAR foi uma grande solução que arranjaram para ajudar as mulheres, pois sem essas instituições não seria possível. Por isso, procurem ajuda.