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Atena, 56 anos, Faial

Não se deixem ficar quietas! Façam alguma coisa! Fazendo alguma coisa é que conseguem resolver a situação; paradas, não resolvem nada. Esperei muito tempo para chegar a uma solução, foi muito demorado.

Sempre senti que algo não estava bem, que não era normal na relação. Sempre senti, mas não fazia nada, deixava passar, andava… pois estava sempre naquela esperança de que o amanhã iria ser melhor, que amanhã vai ser melhor outra vez, e vai… e vai! Foi passando e foram passando os anos, até que um dia, foi enchendo, como a gente costuma dizer: foi enchendo o saco. Fui o enchendo, até que disse: NÃO AGUENTO MAIS. E lá chega um dia, em que ele começou novamente, foi num domingo, e começou, começou, que arrebentou.

Não sei o que tinha naquele dia, mas arrebentou. Por fim, fui à polícia, apresentei a queixa e tive o apoio da UMAR, a PSP, o agente que me atendeu orientou-me nesse processo, aconselhou-me a ter o apoio da UMAR e eu aceitei. Tive ajuda e apoio, o apoio foi importante, tive resposta logo após a denúncia, não fiquei sozinha. Nessa altura, fiquei na casa de uma filha minha; houve entidades, profissionais que ajudaram e muito, principalmente no apoio psicológico.

Não tinha bem estratégias para lidar com isso, com a violência quando esta começava. Também respondia, muitas vezes exaltava-me, acabava por também falar alto, e o que ele me dizia era que eu falava alto para me sobrepor, que era para esconder alguma coisa, e íamos nisso, fui levando isso. E foram anos nisso, com violência doméstica, 28 anos de violência doméstica, violência física. Depois então foi só violência verbal nos últimos anos, foram muitos anos.

Senti que perdi muitos anos da minha vida, devia ter feito muita coisa que não fiz, deveria ter aproveitado muita coisa que não aproveitei, e não aconteceu nada disso. Enquanto estava na relação, não podíamos sair para lado nenhum, pois se saíssemos para algum lado, na cabeça dele havia amantes meus. Se fosse para outro lado, havia outros amantes, havia sempre um problema. Vínhamos sempre para casa com um problema para resolver, e acabava mal, acabava sempre com violência.

Partilho um pouco da minha história porque se houver alguém numa situação como a minha, que pelo menos não se deixe ficar. Faça alguma coisa, pois não é vida para ninguém ser maltratada. Não se deixem ficar quietas, façam alguma coisa, façam alguma coisa por si enquanto é tempo, pois eu estive quieta por muitos anos. Por isso, façam alguma coisa, peçam ajuda.