No mês de regresso às aulas, olhemos para as questões de género na saúde das crianças e jovens, com especial destaque para as doenças neurológicas. Infelizmente, as desigualdades acontecem em todas as faixas etárias, incluindo nestas mais novas. Pais, professores e médicos associam a hiperactividade e o problema de défice de atenção apenas aos rapazes, que veem a saltar, empurrar e perturbar quem os rodeia. Em contraste, a rapariga com défice de atenção perde-se no seu mundo interior, abstraindo-se da realidade.
Em vez de física, a sua hiperactividade é cerebral e leva-a a reparar numa quantidade infinita de minudências. Focados nos disparates dos rapazes, pais e profissionais não percebem e atribuem as consequências comportamentais desta condição neurológica a defeitos de personalidade, acusando a rapariga de não ser inteligente e de ser distraída e preguiçosa.
Com o autismo passa-se o mesmo. A sociedade mede o autismo pela bitola masculina do rapaz obcecado com pormenores, fazendo gestos repetitivos e aparentemente indiferente ao meio social. Mas o autismo nas raparigas é menos óbvio porque elas são mais perspicazes na camuflagem dos seus sintomas. Resultado: há milhares de mulheres com autismo por diagnosticar, obrigadas a sofrer as amarguras que daí advêm.
A incapacidade da sociedade e da medicina para diagnosticar e tratar condições neurológicas nas meninas, como o défice de atenção e o autismo, tem consequências graves no desenvolvimento destas jovens.