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Homem Histérico? Nem por sombras!

Na evolução do conhecimento científico, o filósofo René Descartes (1596-1650) estipulou a dicotomia corpo versus mente, afirmando “Penso, logo existo” e, prontamente, se determinou que a mente é o domínio masculino, enquanto o corpo e as emoções são o terreno da mulher.

A palavra histeria deriva do grego hystera e refere o órgão do corpo feminino que é o locus da maternidade – o útero. Como se acreditava que a histeria resultava de um defeito no útero, estabeleceu-se que apenas as mulheres eram ou podiam ser histéricas.O registo mais antigo desta crença milenar é um papiro médico egípcio, datado de 1900 AC, que atribui os distúrbios comportamentais ao útero a vaguear pelo corpo feminino, crença que os gregos e civilizações subsequentes adotaram.

Com o Cristianismo, o sofrimento humano ficou ligado à noção do pecado e aos malabarismos de Satanás, o que iria culminar em exorcismos e na persecução e tortura de mulheres acusadas de serem feiticeiras. Na Europa, entre 1400 e 1782, estima-se que 40 000 a 60 000 mulheres foram mortas, acusadas de serem possessas. A partir do século XVII, a ciência médica localiza a histeria no sistema nervoso central e, no século XIX, introduz a noção de doença mental, administrando tratamentos penosos a muitas mulheres, pois teimou-se em atribuir a histeria ao sexo feminino. E o estigma mantém-se. Regra geral, o homem zangado é considerado audaz e assertivo; a mulher é irracional e histérica. Um homem histérico – nem pensar!