Tenciono voltar ao tema do género na ciência e medicina, mas neste mês em que a televisão e afins nos brindaram com imagens da parada militar do dia 9 de Maio no Kremlin, não resisto referir a crónica da Clara Ferreira Alves na Revista do Jornal Expresso do passado dia 13, onde lemos: “As paradas militares são o território da testosterona ou, como se diz agora, da masculinidade tóxica. Vladimir Putin é o protótipo do termo, é o exemplo do macho alfa para o qual o termo foi inventado, apesar das carradas de botox e fillers que lhe preenchem as rugas”.
Do botox não sei, mas das paradas, true words were never spoken, como se diz em inglês! A cultura militar assenta numa hierarquia rígida e belicista que têm tudo a ver com a testosterona, como é demais evidente na parada militar.
São as extensas filas de homens em uniforme, clones uns dos outros, vestidos da mesmíssima forma, do capacete da praxe às botas lustradas, todos a marchar, pernas tesas como varas dando passos milimetricamente iguais, cabeças viradas para o lado, não para a frente, pois o que os espera foi previamente definido pelos superiores.
Esta matriz macho é evidente na própria guerra. Os mísseis e projéteis, e as armas que se inventam e fabricam, são todos objetos fálicos. Não há outra forma de o dizer!
Em comparação, “Ninguém apanha uma mulher numa parada militar”, escreve Clara Ferreira Alves: Há logo o problema do uniforme. Nenhuma mulher quer aparecer num evento vestida igual a outra!
|| Rosa Neves Simas
Asas da Igualdade, Açoriano Oriental, 28 de maio, 2022