Imagem de Single

As Dimensões da Dor no Feminina

Neste mês em que faço anos, refiro algo que faz parte da minha vida desde os 25 anos de idade. Na altura, vivia na Califórnia e, de repente, comecei a sentir dores incapacitantes a que os médicos deram um nome estranho: artrite reumatoide.

Ao ler o que encontrei sobre esta enfermidade, descobri que é uma doença autoimune que afecta maioritariamente o sexo feminino. Não digo mulheres porque até bebés podem sofrer desta doença! Para além da que me calhou, as mais conhecidas doenças autoimunes são a endometriose e a fibromialgia. Todas levam à dor crónica e afectam sobretudo o sexo feminino.Há mais de um século que se sabe isto, mas pouco ou nada se fez para perceber porquê, o que se traduz num fardo enorme de sofrimento para a mulher, perseguida pela dor crónica.

Ao mesmo tempo que os estudos escasseiam, a medicina, em vez de tratar a pessoa como um todo, tende a focar uma parte – o paciente tem um problema num órgão, o médico implementa uma solução, o paciente aceita e sai, e entra o próximo. Porém, a persistência da dor crónica coloca em causa este modelo de medicina, exigindo um conhecimento científico e tecnológico que tenha em conta as questões de género.

Por tudo isto, faz sentido que os ensaios clínicos sejam feitos sobretudo em homens? Se 75% dos casos de doenças crónicas são mulheres, porque é que 80% dos estudos são feitos em homens e roedores machos? E com que justificação se receitam às mulheres medicamentos que só foram testados em homens?

|| Rosa Neves Simas
Asas da Igualdade, Agosto, publicada no Açoriano Oriental, do dia 20 de Agosto, 2022